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Em cidades inteligentes, apenas tecnologia não basta

24/05/2022

Por Alexandre Amorim*

Existem vários conceitos e definições quando o assunto é cidades inteligentes. Nos anos 1990, o termo foi muito associado à tecnologia e inovação por conta do avanço das chamadas big techs, empresas da indústria de tecnologia da informação, que queriam uma forma de “vender” suas evoluções.

Na época, essa relação fez sentido, principalmente para romper barreiras e mostrar o quão acessível a tecnologia podia ser, indo além da iniciativa privada e chegando ao setor público - e consequentemente nas cidades.

Mas essa definição não se sustentou por muito tempo.

Com o passar dos anos, percebeu-se que, na prática, só a tecnologia não torna uma cidade inteligente. Isso porque há um árduo trabalho de planejamento e estruturação por trás, além de um ecossistema que deve ser moldado para que a cidade seja, de fato, inteligente. Ela precisa, sobretudo, promover o desenvolvimento econômico e aumentar a qualidade de vida das pessoas, colocando o cidadão sempre no centro das ações.

É claro que os recursos tecnológicos são ferramentas importantes para atingir esse objetivo, mas de forma isolada não surtem efeito.

A construção de cidades inteligentes depende de planejamento, gerenciamento e financiamento. Existem prioridades que precisam ser resolvidas antes de avançar para a fase de implementação de sistemas e tecnologias. Vale questionar se é viável e em que momento essa evolução poderá ser feita.

É possível que tenhamos milhares de cidades inteligentes no Brasil? Sim! Mas uma diferente da outra. Não existe uma receita pronta. Cada cidade tem pessoas diferentes, características peculiares e cultura própria, que deve ser valorizada e mantida, independentemente da gestão pública. O que funciona em um lugar não necessariamente funcionará em outro.

É preciso, especialmente, respeitar o DNA da cidade.

Envolver diferentes atores nesse trabalho, incluindo o setor público, privado e acadêmico, permite maior chance de acerto e sucesso, porque aí teremos visões e objetivos diferentes trabalhando para o mesmo lado, para uma causa comum.

Se analisarmos Curitiba, eleita em 2021 como uma das sete comunidades mais inteligentes do mundo, segundo o prêmio Intelligent Community Forum, veremos que a cidade só conseguiu esse mérito por trabalhar arduamente em um planejamento urbano, tendo claramente seus pontos fortes, fracos e sabendo aonde quer chegar.

E isso não aconteceu de um dia para o outro.

Desde a década de 1970 a capital paranaense aposta em inovação. A diferença é que há uma continuidade do planejamento. A ideia, lá atrás, era descentralizar serviços públicos para que ficassem mais perto do cidadão. Foram, então, criadas as Ruas da Cidadania, que atendem a população em diferentes pontos da cidade. Hoje, a inovação é outra: o cidadão tem esses mesmos serviços na palma da mão, acessando-os via aplicativos no celular. Neste caso, vemos a tecnologia como algo complementar. Essencial, mas que complementou o que foi planejado anteriormente.

sUma das maiores dificuldades das cidades é justamente essa continuidade. É comum se acomodar no meio do caminho. Mas, para quem aposta em cidades inteligentes, essa não é uma opção. Precisamos ser ágeis para tomar decisões e programar mudanças. Afinal, as mudanças acontecem cada vez mais rápido.


*Alexandre Amorim é graduado em sociologia e ciências políticas e possui mais de 20 anos de experiência em planejamento estratégico, gestão corporativa e governamental, transformação digital, inovação e tecnologias para cidades nos mercados públicos e privados. Atualmente, é diretor-presidente do Instituto das Cidades Inteligentes (ICI).

Publicado originalmente no portal da Revista Nacional da Tecnologia da Informação (RNTI)